Os historiadores fascinarão os brasileiros do futuro
quando puderem se pronunciar sobre os dias atuais sem se preocupar em saber o
que vai sobrar depois que a turma da Odebrecht começar a suar o dedo. O relato
sobre o apocalipse do PT no poder encontrará a exatidão no exagero. Buscará
paralelos na dramaturgia grega ao relatar como o petismo saiu da História para
cair na vida.
No início desta semana, o PT imaginou que poderia
reescrever a história a partir da gravação de uma conversa em que Romero Jucá
insinua para Sérgio Machado que a queda de Dilma e a ascensão de Temer poderia
resultar num “pacto” para “estancar a sangria” da Lava Jato. Está confirmado o
golpe, alardearam Dilma e os petistas.
Passaram-se os dias. Sobrevieram as gravações dos
diálogos que Machado travou com Renan Calheiros e José Sarney. Veio à luz a
delação do ex-deputado Pedro Corrêa, do PP.
Antes que pudesse comemorar uma
mudança dos ventos, o PT viu-se enredado num redemoinho que o devolveu
rapidamente à defensiva.
Numa das conversas colecionadas por Machado, Sarney
declarou que a própria Dilma pediu dinheiro à Odebrecht para nutrir a caixa
registradora de sua campanha e remunerar o marqueteiro João Santana. Previu que
madame será abatida numa confissão da turma da empreiteira, “metralhadora ponto 50”.
Em sua delação, Corrêa iluminou o submundo em que Lula se
meteu para comprar apoio congressual com dinheiro roubado da Petrobras.
Estilhaçou a retórica do “eu não sabia” ao relatar reuniões em que o morubixaba
do PT apartou brigas dos aliados por dinheiro ilegal e ordenou a nomeação de
diretores larápios para a estatal petroleira.
Quando puder relatar à posteridade tudo o que sucedeu, a História descreverá uma fantástica sequência de fatos extraordinários acontecidos com pessoas ordinárias —em todos os sentidos. E concluirá que houve, de fato, um golpe no Brasil. Um golpe do PT e da quadrilha que gravitou ao seu redor contra o erário.