É muita bandalheira para pouco espaço. É
muita pauta para pouco repórter. É delinquência demais para um país só.
É tanta obscenidade que, nesta segunda década do século 21, o que houve
na primeira parece anterior ao Velho Testamento.
Isso ajuda a explicar a
curta escala nas manchetes feitas pelo sumiço das câmeras de vigilância
do Planalto, assombro divulgado em entrevista a VEJA pelo general
Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da
Presidência da República.
A remoção dos aparelhos ocorreu no
segundo semestre de 2009, informou Etchegoyen. Se tivesse consultado os
jornais da época, teria descoberto que o motivo da remoção dos aparelhos
teve (e tem) nome e sobrenome: Lina Vieira, secretária da Receita
Federal afastada do cargo em agosto daquele ano.
Entre a história
protagonizada por ela e a entrevista do chefe do GSI passaram-se apenas
sete anos ─ e no entanto o resgate do caso parece coisa de
arqueologista. Aos fatos.
Em 9 de agosto de 2009, numa entrevista à Folha, Lina Vieira fez revelações que escancaram a causa da sua substituição. Fora demitida por honestidade.
Estava marcada para morrer desde o fim
de 2008, quando fez de conta que não entendeu a ordem transmitida por
Dilma Rousseff, então chefe da Casa Civil, numa reunião clandestina
ocorrida no Planalto: “agilizar”a auditoria em curso nas empresas da
família do ex-presidente José Sarney.
Em linguagem de gente, deveria
encerrar o quanto antes as investigações, engavetar a encrenca e deixar
em paz os poderosos pilantras.
Dilma poderia alegar que não dissera o
que disse. Como serial killers da verdade primeiro mentem para só depois
pensarem em álibis menos mambembes, resolveu afirmar que a conversa
nunca existiu.
Lina pulverizou a opção pelo cinismo com
uma saraivada de minúcias contundentes.
Contou que o convite para a
reunião foi feito pessoalmente por Erenice Guerra, braço-direito, melhor
amiga de Dilma e gatuna ainda sem ficha policial.
Como confirmou
Iraneth Weiler, chefe de gabinete da secretária da Receita, Erenice
apareceu por lá para combinar a data e o horário da reunião.
Também
queria deixar claro que, por ser sigiloso, o encontro não deveria
constar das agendas oficiais. ”
Em depoimento no Senado, descreveu a
cena do crime, detalhou o figurino usado pela protetora da Famiglia
Sarney e reproduziu o diálogo constrangedor.
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